quinta-feira, 1 de julho de 2010

Deixe-me acontecer


Acordar e não querer sair da cama
acontece
olhar em volta e não enxergar a vida
acontece
olhar pra dentro e sentir o coração apertado
acontece
ficar perplexa diante da total falta de controle
ás vezes, acontece.

O capitalismo sufocante
A triste condição humana
O egoísmo
A falta de fé
O comodismo
A barbarie
O medo de sair na rua
A falta de amor
O cansaço de ser
A dor
Quanto peso, quantos motivos...

Me deixe sentir a dor de viver
Viver dói, nascer dói e morrer...
bem... não sei. Sei que morro diariamente
e dói.
Me permita sofrer meu cansaço
sou mulher, sou frágil
não sou sempre forte, não sou de aço
Eu choro sim.
Me deixe falar não
Me deixe ficar em casa
Me deixe ficar feia
não há beleza sem dor.

A lágrima acontece
ora quente e lenta
ora desesperada
O aperto no coração acontece
ora acrescido de angústia, ora acrescido de falta de ar
A saudade acontece
ora com o nome de Madú, ora sem nome algum
O desânimo acontece
pela manhã ou antes de dormir
são sentimentos e emoções
eles vem e vão...
e como tudo, passam.

Só quero saber
se posso sentí-los...
tenho direito? Posso ter medo?
Ou tenho de colocar o velho sorriso no rosto
simpático e gentil?
Me diga... nesse mundo eu posso ser eu
ou tenho que representar sempre o mesmo papel de vencedora?
Ah... você vai me dizer que não
você vai afirmar que tem espaço pra mim
mas, no momento em que a lágrima cair
de perto você vai sair
dizendo que não quer incomodar
sem admitir que não quer ter o trabalho de participar
da dor de alguém
pois nessa sociedade ninguém
gosta dos chorosos... não é mesmo?
Os chorosos são fracassados e...
Esta é a sociedade dos homens e mulheres de sucesso
Este é o mundo de quem carrega uma etiqueta de luxo
Este é o meio em que o dinheiro compra tudo
Este é o planeta que destrói sua natureza em busca de progresso
Esta é a cara do mundo!
Não tem espaço pra quem chora...
Permita-me então pelo menos
saber que sou gente
peito aberto, coração ardente
deixe-me aproveitar esse momento
em que do mundo sou diferente
deixe-me resgatar meu eu
pela dor, pelo engano
pela queda, pelo dano
que por, às vezes, acontecer
tornam-me mais humano.

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