Retalhos

22 de Fevereiro de 2012

Desabafo...

     O retalho de hoje sou eu. Eu toda feita de retalhos. Olho pro lado e me pergunto: Onde estão meus amigos? Não os vejo. De um lado, a ponta da solidão humana, do outro, a ponta da amizade sem convivência. Amizade sem convivência? Amizade? Amizade de verdade?

Estou cansada.






13/11/2011

Nós

Entre amigos
Entre risos
Fome de gritos
Sede de suspiros
Agitos, passeios, histórias
Todos com sua hora
No nosso tempo
Agora
Aflora
O um
O outro
No todo
Todos!

Cristiano Silva.

(Tomando um café... novembro, Rio de janeiro)


*****



08/11/2011


Chico Buarque pra mim era um nome que representava alguém da elite musical brasileira. Até que um amigo me emprestou o cd "Construção". A primeira vez que escutei (anos atrás) não gostei da voz do cantor e achei seu estilo muito estranho e diferente de tudo o que ouvi. Guardei o cd. Não devolvi.

Depois de decidir que eu precisava conhecer as histórias que envolvem/envolveram o nosso cotidiano brasileiro, a música e a poesia, lembrei de que "tinha" um cd do Chico. Meus ouvidos se abriram. A voz dele soou doce, minha alma gostou. Comecei a ler as letras das músicas e me encantei com a habilidade que esse "cara" tinha.

Wagner Homem, organizador do livro, decidiu colocar no papel algumas das histórias mais marcantes vividas ao longo de uma amizade que teve início em 1989. Não só registrou as histórias das maiores composições de Chico, como contextualizou cada uma delas na História do Brasil, entre elas evidencia-se as canções "A banda", "Pedro Pedreiro", "Roda-viva", "Samba de Orly", "Apesar de você".... etc.

Após a leitura do arquivo das histórias das músicas de Chico,  pude ter uma visão diferente da obra desse poeta. O menino Chico descobrindo a vida se descobriu nas palavras e cumpriu com eficiência a encomenda das músicas que lhe eram solicitadas. Percebi que, pelo menos nas canções desse livro, a maioria das músicas foram encomendadas para o teatro, o cinema e para outros cantores e cantoras. Algumas letras eram indicadas pela própria melodia e outras nasciam a partir de um mote.

Chico era incisivo em defender a ideia de que nem sempre as canções são inspiradas na realidade ou na vida do compositor. Afirma que a música tem vida própria. Muitas vezes, ele mesmo não compreendia a totalidade do significado de uma música recém finalizada. A música de Chico é absoluta, é Arte. Gera significados e segue ressignificando a vida para os seus ouvintes.

Reproduzo aqui a letra e a história da música "Construção" não porque seja a que mais gosto, mas por tratar de uma narrativa dos últimos instantes da vida de um operário. O que remete ao fato de que nós, operários da vida, estamos construindo sem lembrar que podemos estar como esse operário, nos últimos dias de nossas vidas.

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado

Por esse pão pra comer, por esse chão prá dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir,
Deus lhe pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,
Deus lhe pague
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,
Deus lhe pague.

Falando à revista Status, em 1993, Chico confessa que inicialmente tudo  não passava de uma experiência formal, e que a ideia de narrar os últimos instantes de vida de um operário veio depois da música quase pronta. Com "Construção" ele chegou próximo da tão falada unanimidade, recebendo elogios de críticos de todas as tendências. Os de direita, entretanto, não perdiam a oportunidade para uma agressão gratuita e de péssimo gosto, como a do jornalista David Nasser, que sugeriu a inclusão de mais uma proparoxítona: "Médici", o nome do presidente.

A riqueza da melodia, o primor da letra em dodecassílabos, alternando rimas em proparoxítonas, associados aos arranjos do maestro tropicalista Rogério Duprat, são, em grande parte, os responsáveis pelo sucesso do disco.

Porém, os louros tinham também que ser creditados a um outro colaborador, de cuja existência Chico só tomou conhecimento anos depois, quando comentava com o diretor de sua ex-gravadora as dificuldades que enfrentava por não ser artista de aparecer muito em televisão ou em shows patrocinados por rádios. Ele reclamava do Jabá- dinheiro que as gravadoras pagam às rádios para tocar determinadas músicas. Em entrevista para a revista América, do Memorial da América Latina, em 1989, ele desvela o personagem:

Aí, meu antigo patrão me explicou que a questão do Jabá sempre existiu. Eu disse que sabia, é claro, mas que a coisa hoje é muito mais violenta. E então veio a revelação: "Você lembra do sucesso de 'Construção', uma música difícil, pesada, muito longa para a época, e que tocava no rádio o dia inteiro? Pois paguei muito jabá por ela."

O escritor Humberto Werneck conta que o advogado da Phillips, João Carlos Muller Chaves, usou um estratagema novo para conseguir sua liberação: "Ao entregar a letra, num golpe de ironia e audácia, pediu que a proibissem;os censores, então, como que para contrariá-lo, liberaram 'Construção' sem cortes.



                                                                           ****

20/10/2011

Jeito de menina
Letras de mulher
Carisma de adulta
Jardim em flores
esparramada na Tez
Poema em passos
lentos
Letras que juntam
pra dizer o que sente
Como quem segue o
Sol no horizonte.

Rêgo Júnior

Escrito numa deliciosa tarde Poeme-se, dia 12 de outubro. Esse poema foi meu presente no dia das crianças! Amei....

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09/09/2011

Leitura: História das músicas de Paulo César Pinheiro






Não se pode viver sem ler a história das músicas dos nossos grandes compostitores brasileiros. Então, decidi começar por Paulo César Pinheiro que, aos 14 anos, ainda criança, jogando bola de gude e batendo bola foi enredado nas cordas da música. Viva o samba! Viva a música brasileira!

Já estou praticamente no fim da leitura. Inebriada com o poder da Arte. Fascinada com a missão particular de Paulo César Pinheiro. 

Uma das histórias que mais chamou a minha atenção foi a feitura da música Espelho e a sua sequência Além do Espelho. João Nogueira era grande parceiro de Boemia de Paulo César, também era um compositor brilhante mas, até então, eles nunca tinham feito nenhuma parceria musical. Até que João passou na casa de Paulo para mais uma noitada e comentou que tinha um samba em homenagem ao pai, de melodia pronta, mas com a letra "empacada". Não conseguia sair do que já escrevera. João propôs a Paulo César que desse um "jeito" na letra e foi assim que nasceu a primeira parceria entre Paulo César Pinheiro e João Nogueira:

Espelho

Nascido no subúrbio nos melhores dias
Com votos da família de vida feliz
Andar e pilotar um pássaro de aço
Sonhava ao fim do dia ao me descer cansaço
Com as fardas mais bonitas desse meu país
O pai de anel no dedo e dedo na viola
Sorria e parecia mesmo ser feliz

Eh, vida boa
Quanto tempo faz
Que felicidade!
E que vontade de tocar viola de verdade
E de fazer canções como as que fez meu pai

Num dia de tristeza me faltou o velho
E falta lhe confesso que inda hoje faz
E eu me abracei na bola e pensei ser um dia
Um craque da pelota ao me tornar rapaz
Um dia chutei mal e machuquei o dedo
E sem ter mais o velho pra tirar o medo
Foi mais uma vontade que ficou pra trás

Eh, vida à toa
Vai no tempo vai
E eu sem ter maldade
Na inocência de criança de tão pouca idade
Troquei de mal com Deus por me levar meu pai

E assim crescendo eu fui me criando sozinho
Aprendendo na rua, na escola e no lar
Um dia me tornei o bambambã da esquina
Em toda brincadeira, em briga, em namorar
Até que um dia eu tive que largar o estudo
E trabalhar na rua sustentando tudo
E assim sem perceber eu era adulto já

Eh, vida voa
Vai no tempo, vai

Ai, mas que saudade
Mas eu sei que lá no céu o velho tem vaidade
E orgulho de seu filho ser igual seu pai
Pois me beijaram a boca e me tornei poeta
Mas tão habituado com o adverso
Eu temo se um dia me machuca o verso
E o meu medo maior é o espelho se quebrar




Tempos depois...

A dupla em questão foi convidada para compor a música-tema de um filme que, a princípio, iria se chamar Pensão Don Luís, com Ítalo Rossi no papel principal e uma jovem e bela atriz que estava sendo lançada: Fabiana. Paulo César Pinheiro e João Nogueira leram o roteiro. João começou a esboçar uma melodia interessante e Paulo rascunhou um argumento central. 

Certo dia, foram convidados a assistir a gravação de um trecho da filmagem. Chegando ao local, um casarão locado no alto da Boa Vista, perceberam que o set estava lotado. Eles encostaram na porta e viram  uma cena surreal: a morena, completamente despida, com uma guirlanda nos cabelos, uma espécie de coleira preta no pescoço, sapatos de saltos altos e uma pena longa de pavão nas mãos, que ela roçava lentamente na... bem... nos grandes lábios, insinuando uma masturbação. Toda a equipe de filmagem era masculina, havia uns dez homens no set. Todos com os olhos cravados nela, nem respiravam. De repente, o João Nogueira, excitadíssimo, chama Paulo César pra sair de lá porque estava com a "barraca armada" e precisava de um chope para esfriar os ânimos. 

Fizeram o dever de casa e mandaram uma fita gravada com a música para a produção do filme. A música foi rejeitada.

Anos depois, ouvindo a música "ESPELHO", Paulo César teve uma ideia: Continuação de hereditariedade. Aquele filho que compôs pro pai, agora, pai também, vai compor pro filho. O reflexo do reflexo do espelho. Então Paulo César, se lembrou do samba lento que tinham feito pro filme, o ouviu novamente e decidiu rasgar o que tinha escrito pro longa-metragem e iniciar a letra do zero. Percebeu que a linha melódica parecia ser uma resposta da outra, uma sequência. A nova letra os comoveu profundamente porque ambos já eram pais:

Além do Espelho

A vida é sempre uma missão
A morte uma ilusão
Só sabe quem viveu
Pois quando o espelho é bom
Ninguém jamais morreu
Quando eu olho o meu olho além do espelho
Tem alguém que me olha e não sou eu
Vive dentro do meu olho vermelho
É o olhar de meu pai que já morreu
O meu olho parece um aparelho
De quem sempre me olhou e protegeu
Como agora meu olho dá conselho
Quando eu olho no olhar de um filho meu
Sempre que um filho meu me dá um beijo
Sei que o amor de meu pai não se perdeu
Só de ver seu olhar sei seu desejo
Assim como meu pai sabia o meu
Mas meu pai foi-se embora no cortejo
E eu no espelho chorei porque doeu
Só que olhando meu filho agora eu vejo
Ele é o espelho do espelho que sou eu
Toda imagem no espelho refletida
Tem mil faces que o tempo ali prendeu
Todos têm qualquer coisa repetida
Um pedaço de quem nos concebeu
A missão de meu pai já foi cumprida
Vou cumprir a missão que Deus me deu
Se meu pai foi o espelho em minha vida
Quero ser pro meu filho espelho seu




08/09/2011

TRÊS PONTINHOS...


                        Nasci ponto, cresci linha, virei letra.
                        A primeira paixão me fez sílaba.
                        As muitas amizades, frase.
                        Hoje, passada uma vírgula de tempo
                        Me tornei verso.
                        E no caminho de envelhecer conto,
                        Percebi que na imensidão do universo
                        ...Sou apenas mais um ponto.
                        Quem sabe seja lembrado um dia!
                        Um dia! Se eu virar poesia...

                                                                          Haroldo Porto

Poeta Brasiliense, gente da melhor qualidade, errante e humano. Meu amigo.
Poeme-se.


***














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