quinta-feira, 10 de março de 2016

Conselho


      



 Desde muito pequena escuto a máxima "Se conselho fosse bom não se dava, se vendia." Pensando na palavra, resolvi buscar sua certidão de nascimento  e descobri que se origina do latim consilium e significa opinião, plano.
         Olhando sob o enfoque filosófico, alguém que dá um conselho para outro ser, teoricamente, deveria ter o mesmo campo de consciência do aconselhado e, no mínimo, ter vivido a mesma experiência, objeto do conselho. Só que não. É comum o desejo de resolver a vida do outro, em quem projetamos nossos dramas, com conselho oferecido na fila do banco, na frente da televisão, na sala de espera do médico, no trânsito, no shopping, no botequim.
        Eis uma possibilidade que pode explicar o porquê de o conselho não ser ouvido: Não há verdades afins entre conselheiro e aconselhado. Não há linguagem afetiva. Um conselho vazio de consciência, não gera identificação entre os envolvidos. São palavras jogadas ao vento que voltam ao seu interlocutor ainda mais esvaziadas.
           Segundo a teoria da reencarnação, não exitem erros e acertos, existem escolhas que geram uma reação natural que vai influenciar no nível de evolução do Ser que está em busca de reforma espiritual. Por essa hipótese, ninguém piora e o Universo trabalha sempre a nosso favor para que tomemos o cuidado de voltar para o caminho do nosso coração.
          Surge, assim, uma outra possibilidade para o tema: o fato de o aconselhado estar em um nível de evolução diferente do conselheiro impossibilita a compreensão do conselho. O mesmo, pode não estar preparado para perceber a nova realidade proposta pelo conselheiro e isso faz com que, além de não se identificar com o que está sendo dito, ele se sinta profundamente criticado.
         Pode-se perceber, então, que o conselho é uma semente que encontra muitas pedras e, por vezes, não consegue germinar. Apesar da boa intenção, já nasce fadado ao fracasso, por muitas vezes não ter coração humano e ser constituído de ego e de outra máxima como " Faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço." Essa discussão não pretende dar um conselho sobre conselhos. A ideia é refletir sobre a visão que temos desse fenômeno social. É um convite para ressignificar essa prática, cada um a seu modo.
       Os conselhos são verdades absolutas em declínio porque cada ser tem sua história, suas crenças aprendidas, seus traumas, sua consciência, seu nível de evolução, seu vocabulário, sua percepção. Assim, pode valer a pena distribuir amor e mostrar as múltiplas formas de viver a vida. No entanto, à cada pessoa estão reservados os direitos autorais de suas escolhas e somente a ela caberá o pesar e a alegria decorrente delas. Podemos tentar salvar o ente amado ou o amigo das situações da vida, mas nunca poderemos salvá-lo de si mesmo.

Cristiane Correia

10 de Março de 2016.