terça-feira, 26 de abril de 2011

Terça insana













Não sei quanto tempo vai durar minha terça-feira
Já ouvistes falar da terça insana?
Nenhum humor.
São dias e dias esperando pela recuperação
do susto de ser humano.
Com o passar do tempo
a dor não passa...
Mais dói
Mais se quer o que não se tem
Mais se lamenta pelo que se perdeu
Mais anseia pelo amanhã
que talvez nem amanhecerá.
Mais decide pelo não
Mais insiste em não rezar
Mais divide insatisfação
Mais duvida da dor de amar.
Essa minha condição
de a dor semear
vai virar exclamação
em todo verso que brotar...
E se a minha perdição
for todo dia morrer de tanto sonhar?
Então virá a constatação
Sou humana doente de amor
Sou mulher carente de ...mar...
Quero me lançar na sua areia flor
Te ver, te cheirar
Brincar de fazer amor
Mergulhar no seu calor
só pra perder o ar...

sábado, 23 de abril de 2011

Costura

Alinhavo os retalhos coloridos
Na costura dos meus pedaços.
Desde o meu nascimento
costuro uma túnica longa
que proteja meu corpo
que aqueça minha pele
que esconda a minha nudez...
Os retalhos que a formam
eu busco em cada dificuldade, em cada alegria, em cada conquista.
Uns se encaixam perfeitamente na costura,
Outros precisam de corte e adaptação especial.
Minhas vestes se formam de tudo o que eu vivo
a cor da minha roupa é produzida pela cor da minha energia...
O meu dia a dia torna a costura mais longa ou mais curta.
Ás vezes descosturo o que já está pronto
e começo tudo denovo...
Em outro momento, tento fazer remendos
e tampar os buracos... dia e noite.
Sigo costurando a minha roupa
Escolhendo os meus caminhos
Cultivando o jardim do meu coração
Aprendendo a lidar com os meus espinhos.
Hoje costuro mais um retalho vermelho
Agora preciso sair...
Tenho que encontrar mais retalhos.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Realengo: Luto, desconstrução e dor.





A professora de Língua Portuguesa que se deparou com o sujeito não pôde acreditar na oração que se impunha em plena aula: Homem invade sala de aula e atira em todos os alunos que seus tiros puderam alcançar.

A aula de gramática foi interrompida. Treze vidas foram abreviadas. O Brasil olhou para Realengo e chorou. Todas as escolas brasileiras se viram dentro daquela sala de aula ensanguentada. Aquela professora apavorada podia ser eu.

Saí da minha última aula do dia. Passos curtos, voz cansada, desgaste físico, dia normal. Chegando à sala dos professores desenhava-se uma cena de terror: Televisão ligada, professores atônitos diante de um triste pronunciamento do governador do Rio de Janeiro: "Esse foi um massacre escolar sem precedentes no Brasil."

Perdi a fome, fiquei muda, ainda mais cansada. Uma tristeza profunda tomou conta de cada célula do meu corpo. Saí sem me despedir. Fiquei fora de área. Aérea. Sem reação.

Cheguei em casa e o noticiário reafirmava:  Homem invade sala de aula carioca mata doze crianças e deixa doze feridos. Por quê? Por quê? Por quê? Cada batimento cardíaco pulsava o mesmo questionamento. Qual a história desse assassino? Como ele teve coragem de tirar a vida desses alunos?

A mídia indica várias possibilidades: Solidão, bullying, fanatismo, psicopatia. Como fazer o diagnóstico? As hipóteses são gritadas na imprensa, mas nunca obteremos uma explicação que seja, no mínimo, razoável.

Engulimos esse fato a seco. A força. Estamos entalados. A violência chegou na escola brasileira: aluno mata professor, professor bate em criança, assassino massacra alunos em plena aula, etc.

A escola não foi feita para isso. Violência é o oposto de Escola. A escola é a casa do conhecimento. É o lugar de descobertas, de autoconhecimento, de convivência. Como pode o aluno ir estudar e não voltar à casa? Como se explica o fato de um professor planejar a sua aula, ir trabalhar e ser executado pela intolerância?

Seguem mais perguntas silenciosas. Sem respostas.. Apenas ruído, choro, suspiro, dor de todos os professores, alunos e profissionais da educação que vivem na escola e a tem como único espaço em que se tem a chance de lutar pela transformação social.

Após 7 dias do massacre, ainda sinto-me dolorida. A escola brasileira está manchada de sangue. É preciso limpar o sangue da sala. É preciso lavar a alma. É preciso acreditar na evolução humana.

A partir de hoje, não vou ensinar apenas questões sobre o substantivo e o adjetivo. Vou ensinar a amar e a conviver com as diferenças. Vamos aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a ser e APRENDER A CONVIVER!

Vai meu amor para todas as 12 crianças que foram brutalmente retiradas do nosso convívio. Um beijo de luz em cada coração...

Cristiane.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Estou morrendo...





Estou morrendo.
Não pertenço mais a essa vida
Não sinto dor já faz um tempo
Ausência de despedida...

Estou morrendo.
Passei pela porta de saída
Nem cansaço, nem partida
Pouco a pouco vou percebendo
Tenho tudo o que queria.

Nem choro, nem sofrimento.
De angústia despida
Pacificada em meu momento
Estou morrendo por dentro
Morrendo de alegria!!!!

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Flor do Sol





Toda semana meu quarto recebe um girassol vivo. Lindo. Amarelo. Sorridente. Meu olhar pra ele é de emoção pura, olhar saudoso por sua vida tão curta. Parece tão inconsciente de sua efemeridade. Ou talvez, sua curta vida seja ainda mais longa que a média humana. Como medir e comparar? Impossível. Não se pode comparar coisas tão diferentes. Tudo é vida manifesta de forma exclusiva. Cada manifestação vital é única. Nasce, cresce, se reproduz, envelhece e morre. O ciclo é semelhante. Nunca igual.

Meu Girassol parece feliz. Dorme e acorda sorrindo. Vibra quando me volto pra ele. Gargalha quando dou as costas. Quanta independência emocional. Não é sempre assim, ele precisa de água e luz para vivenciar seus poucos dias. Isso vem de mim. Se fujo à responsabilidade, ele morre mais rápido: fica sem ar, cada centímetro de seu caule fica ressequido, começa a murchar, as folhas começam a se contorcer, se transforma em um bebê velho. Sorriso amarelo de tristeza. Seus dias serão encurtados e isso ele não pôde escolher. A escolha é minha.

Eu escolho cuidar, ou deixar morrer. A escolha dele já foi feita: Sorrir. Ele sorri sempre. Com sede ou satisfeito. Recém-nascido ou envelhecendo. Querendo ficar, mas indo embora. Sorri, mesmo que não tenha ninguém por perto. Nasceu pra ser feliz. É. Simplesmente é. Simplesmente sabe. Simplesmente sente. Simplesmente vive. Porque viver feliz é sua missão, por isso, vibra tanta energia que ilumina a existência de quem tem o privilégio de compartilhar do mesmo espaço.

Minha paixão pelos girassóis aconteceu há dois anos. Quando olhei pra um e percebi sua rotina: Ser esplendoroso, alegre e encantador. Passar todas as horas do seu dia girando na direção do sol, do nascente ao poente, na tentativa de aproveitar cada segundo de luz, de alimento, de força. Rotina intensa. Identificação imediata. Aconteci junto com essa descoberta. De lá pra cá, observo a flor do sol como a mim mesma. Com o tempo, fui observando em torno do quê eu estava girando, qual era o sol que eu mesma tinha estabelecido pra mim. Essas observações trouxeram as respostas para os meus porquês. Eu, girassol humano, escolho o sol em torno do qual quero girar: Relacionamento, dinheiro, filho, beleza, problema, filosofia, status social, sofrimento, abundância ou escassez...

 Está tudo dentro de mim: A flor do sol e o próprio Sol.