segunda-feira, 18 de junho de 2012

A Ponte


Aponte-me o caminho
da ponte, em mim já
desponta, tonta, a ânsia
de atravessar.

Perpassada do nada,
Ilhada no descaminho,
Este abrigo daninho
insiste em desapontar.

Desse lado de cá
Pontua-me o vazio
de não tatear
um solo tranquilo.

No outro lado de mim
tem terra firme,
o silêncio repousa.
Mas, como chegar?

Sempre invento
perguntas sem respostas
Tento, faço apostas
só desalento

Seguro no vento
subo o banquinho
recolho minhas pernas
espero a ponte apontar...


quinta-feira, 19 de abril de 2012

Pequeno menino Uruguaio..













A língua
daquele menino
de camisa
azul e branca
se parece com a minha.
Mesmo pequeno,
o menino encanta
cantando palavras estranhas
quando vem se apresentar...
Bienvenido, exclama,
Que tal? Disponha!
Estranha quem
não quer brincar

Hermano, me conta
como te sientes
na ponta dos pés?
Ainda não me dei conta
de como o alquimista
construiu Montevidéo
Me conta
o mistério do pincel
Aquele muchacho
da casa pueblo
quis pintar o céu

Menino, me conta
Por que em Punta
del Este
não há ponta
Me explica
como ela é rodeada por água
se não é uma ilha!
Me diga
Que tienes na ponta da língua
Pois, quando hablas,
minha tristeza míngua.

15/04/12
a 8 mil pés, no Céu Uruguaio.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Fome


O cobertor?
      a fome do frio.
A fome do cego?
     a claridade.
A nova idade?
     a fome do velho.
A fome do sexo?
      o tesão.
O pão?
     a fome do faminto.
A fome da sede?
     a água.
O beijo?
      a fome do amor.
A fome do construtor?
      o trabalho.
O sol?
      a fome das plantas.
A fome  da noite?
      a lua.
O amor?
      a fome do homem.
A fome da partida?
      a esperança.
O menino?
      a fome do país.
A fome da dança?
      a música.
A língua?
      a fome da pele.
A fome da palavra?
      o verso.
O cheiro?
      a fome do prazer.
A fome do viajante?
      o mundo.
O filho?
      a fome da mãe.
A fome da Arte?
      a beleza.
A arte?
      a fome da condição humana.
A fome do medo?
      a certeza.
     



quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Attraversiamo















Vem chegando o pôr do sol
pondo fim ao dia
dando início ao meu pranto.
Me alisa devagarzinho,
Rindo...
Indo... embora.
Embora, eu discorde da partida
Vai iluminar outro canto
do mundo
que meu olhar ainda ignora.
Mas, não faz cena sozinho
Com ele dançam os passarinhos
ao som das ondas do mar.
Ele abaixa para se ver na água
Tão vaidoso, quer brilhar...
Transforma em espelho
cada ponta da areia que toca,
vai seguindo sua rota
Exporta luz pro luar.
Manhoso, abre a porta do sonho,
Se despede me beijando
Me despe me deixando
Doura a pele de Ipanema
e atravessa o oceano.

Ipanema, 23 de Janeiro.

Viagem














Descobrir os olhos
do véu da obviedade
da agenda lotada
do trânsito engarrafado
da "correria" da cidade

É verdade...
não há tempo hábil
quando o agora é roubado
e a vida fica limitada
no futuro e no passado

Perder o agora
é olhar e não enxergar
anestesiar o tato
é ouvir e não escutar
comer e não degustar
é congestionar o olfato

Descobrir os olhos
é desenterrar os sentidos
sepultados no horário comercial
espaço em que a vida é vendida
a um custo iR$eal

Descobrir os olhos
É viver em estado de despedida
É Enxergar a essência das coisas
Pra descobrir a vida!

É preciso descobrir os olhos, pra descobrir a vida!

Lapa, Janeiro de 2012.