segunda-feira, 4 de abril de 2011

Flor do Sol





Toda semana meu quarto recebe um girassol vivo. Lindo. Amarelo. Sorridente. Meu olhar pra ele é de emoção pura, olhar saudoso por sua vida tão curta. Parece tão inconsciente de sua efemeridade. Ou talvez, sua curta vida seja ainda mais longa que a média humana. Como medir e comparar? Impossível. Não se pode comparar coisas tão diferentes. Tudo é vida manifesta de forma exclusiva. Cada manifestação vital é única. Nasce, cresce, se reproduz, envelhece e morre. O ciclo é semelhante. Nunca igual.

Meu Girassol parece feliz. Dorme e acorda sorrindo. Vibra quando me volto pra ele. Gargalha quando dou as costas. Quanta independência emocional. Não é sempre assim, ele precisa de água e luz para vivenciar seus poucos dias. Isso vem de mim. Se fujo à responsabilidade, ele morre mais rápido: fica sem ar, cada centímetro de seu caule fica ressequido, começa a murchar, as folhas começam a se contorcer, se transforma em um bebê velho. Sorriso amarelo de tristeza. Seus dias serão encurtados e isso ele não pôde escolher. A escolha é minha.

Eu escolho cuidar, ou deixar morrer. A escolha dele já foi feita: Sorrir. Ele sorri sempre. Com sede ou satisfeito. Recém-nascido ou envelhecendo. Querendo ficar, mas indo embora. Sorri, mesmo que não tenha ninguém por perto. Nasceu pra ser feliz. É. Simplesmente é. Simplesmente sabe. Simplesmente sente. Simplesmente vive. Porque viver feliz é sua missão, por isso, vibra tanta energia que ilumina a existência de quem tem o privilégio de compartilhar do mesmo espaço.

Minha paixão pelos girassóis aconteceu há dois anos. Quando olhei pra um e percebi sua rotina: Ser esplendoroso, alegre e encantador. Passar todas as horas do seu dia girando na direção do sol, do nascente ao poente, na tentativa de aproveitar cada segundo de luz, de alimento, de força. Rotina intensa. Identificação imediata. Aconteci junto com essa descoberta. De lá pra cá, observo a flor do sol como a mim mesma. Com o tempo, fui observando em torno do quê eu estava girando, qual era o sol que eu mesma tinha estabelecido pra mim. Essas observações trouxeram as respostas para os meus porquês. Eu, girassol humano, escolho o sol em torno do qual quero girar: Relacionamento, dinheiro, filho, beleza, problema, filosofia, status social, sofrimento, abundância ou escassez...

 Está tudo dentro de mim: A flor do sol e o próprio Sol.


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