segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Enquanto houver SOL









Nascer do Sol, Copacabana - Rj
Quando não houver saída
Quando não houver mais solução
Ainda há de haver saída
Nenhuma ideia vale uma vida...

Quando não houver esperança
Quando não restar nem ilusão
Ainda há de haver esperança
Em cada um de nós
Algo de uma criança...

Enquanto houver sol
Enquanto houver sol
Ainda haverá
Enquanto houver sol
Enquanto houver sol...

Quando não houver caminho
Mesmo sem amor, sem direção
A sós ninguém está sozinho
É caminhando
Que se faz o caminho...

Quando não houver desejo
Quando não restar nem mesmo dor
Ainda há de haver desejo
Em cada um de nós
Aonde Deus colocou...

Enquanto houver sol
Enquanto houver sol
Ainda haverá
Enquanto houver sol
Enquanto houver sol...(3x)

(Titãs)

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Desculpas













Invento desculpas
pra te liberar
das suas culpas.
Seu carro quebrou
O trabalho te atrasou
Você não pôde chegar.

Invento desculpas
pra te encontrar
urgências, agruras
Vale tudo
pra chamar sua atenção
Encantar o seu olhar

Invento desculpas
pra esse desencontro acabar
Até confesso que sou tua
que é nos seus braços o meu abandono
que você é o meu lugar.
Você disfarça sua fuga
Resiste bravamente
Persiste em se afastar

Não desculpo
esse silêncio que me grita
me apavora, me silencia
É a pior mentira
Esse medo de amar
Você do meu lado
do meu beijo distanciado
Não vem me acariciar

Da janela do meu quarto
olho pra rua
Você não vai passar
Não vai chamar o meu nome
Meu telefone não vai tocar
Me responde, pelo menos...
Pra te esquecer,
Que desculpa vou inventar?

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Humanização


Uma tristeza funda. Uma semana sentindo a dor do mundo. Chega a ser uma dor física. Um suspiro lento e profundo. Estou descobrindo que somos seres essencialmente solitários. Interagimos, namoramos, temos família, construímos outras famílias, mas nascemos e morreremos sozinhos. A passagem é individual. Os queridos que nos acompanham na estrada permanecem a nosso lado apenas em um trecho do caminho. Nesse percurso erramos tanto, erram tanto conosco! Só mesmo os laços de amor pra nos permitirem errar sem maiores danos. Só mesmo o amor pra nos permitir crescer com nossos erros. Só mesmo o amor pra nos permitir ficar confortáveis mesmo quando somos obrigados a encarar nossas limitações. E esse não é o amor romântico de homem - mulher. 

Esse é o amor que se constrói entre pessoas que se dispõem a compartilhar sorrisos. problemas, erros, afinidades, interesses, vida.

O que não impede que as frustrações, divergências, enganos, erros, humanidades e etc participem do nosso cotidiano. Elas são inerentes a nós. 

Hoje, aceitando minha limitação, meus desafios, consigo ser mais tolerante com o outro. É que estou mais flexível comigo mesma. Isso faz toda diferença. Comecei a me permitir ser mais gente. Viver coisas diferentes. Me livrar dos tabus desnecessários. 

Decidi viver com mais leveza. Amar mais. Perdoar mais. Começando por amar e perdoar a mim mesma. 

O mais engraçado é que essa decisão não anula os momentos tristes. Pelo contrário. Viver o agora é um desafio, por vezes, doloroso. Mas, compensa. 

Meu momento agora... é Arte, Gente, Poesia, Conhecimento, Estrutura, Amizade, Dedicação, Sexualidade, livros, família, poeme-se. 
Vou morrer amanhã, com certeza! 
Estão todos convidados pra "Noite que não tem samba"!

(A dor já diminuiu, terminei de escrever.)

Caro leitor,

Não esqueça! Você é gente! Ser humano! 
Por favor, humanização já pro Ser!

domingo, 20 de novembro de 2011

Passione


















Eu
me derramo
inteira
na imensidão
do seu abraço...
Eu
me espalho
faceira
na vastidão
do seu corpo
molhado...
Eu
me divido,
fico sem eira nem beira,
se não te sinto
a me lado...
Eu
dou um passo
em sua busca
quero encontrar a cura
pra esse mal
de não ser tua.
Eu
vestida dos seus olhos
tiro a roupa e me mostro
inteiramente sua
errante, nua, forte
vulnerável.





quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Precisa-se de um amor

















Precisa-se de um amor
Sol pro amanhecer
que visite meu sonho
no despertar e no anoitecer.

Precisa-se de um amor
feito de defeitos, paixão, ardor
Amor humano sem pudor
Que ofereça seu peito, seu cobertor
seu sexo, uma flor.

Precisa-se de um amor
uma noite mal dormida
um abraço na despedida
Enquanto nesse amor houver vida,
Paga-se bem.

domingo, 13 de novembro de 2011

Neblina azul




A madrugada se vestiu de neblina. A estrada, quase invisível, desfilava com um véu branco e frio abraçando os carros que passavam.

Eu, passageira. Passarinhando na sua vida. Quis bicar seus sabores e te descobrir. Você, o condutor. Me levou. Me elevou. No meio da mais densa neblina, tinha o nosso céu azul alaranjado. Sobrevoamos alto na nossa profundidade.

Dois pássaros que quiseram experimentar juntos um instante de céu colorido. Sem definição, sem roteiro, apenas vivenciando as sensações que um dava ao outro. O beijo nosso, o cheiro da pele, os passos da dança, tudo em nós conectado pela energia do verbo querer.

Desenhei letras perfumadas no seu corpo. Silabavam sussurros. Cantavam interjeições. Você, meu alfabeto de prazer, se dava a conhecer. E eu lia. Eu escrevia e lia. Depois, deitava na sua pele e escutava os sons produzidos pelas letras que eu pintava.

Murmúrios, suspiros, volúpia, vontade. No meio de todos aqueles rabiscos, sua boca era a minha necessidade. E você? Você me buscou. Você quis o gosto do meu desejo. E a gente se achou. Frases, orações, períodos inteiros construídos com a nossa dança.

O nosso texto se derramava vulcanizado pela flama do primeiro encontro.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Decoração














De coração
Pele e sangue
Sou feito
De sonho e afeto
Refeito
Afeito ao ritmo
Pulso etéreo
O próximo segundo
Meu impulso eterno
De coração
Solidão e defeitos
Refiz o meu chão
Do desapego
Ao que é perfeito
Fiz minha decoração.


Homenagem ao grande poeta Haroldo Porto, em 31 de outubro de 2011.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

...?...?...?...

A tela em branco
o cursor piscando
Eu me perguntando
Que dor é essa no meu peito?
Acho que é medo do escuro.


Brasília, madrugada confusa em meio a primavera hostil.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Raios de chuva


Chuva vespertina
Desanuviou o céu
Perfumou o ar
Terra pronta pra criação...

Alegria repentina
Comida pra raiz
Água que matou a sede
Aguou o chão...

Chuva cristalina
Pro solitário e infeliz
banhou a pele de quem só quis
se lavar da solidão...

Tristeza pediu a guilhotina
Vendo o sol suar em difusão
Coloriu-se de tons a tarde cinza
Vida em conexão...













quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Meio-dia










Se tocam os ponteiros
Onde o sol pontua seu ápice de luminosidade
Na volúpia do tempo
Só me reconheço inteiro
Quando sou metade.

sábado, 10 de setembro de 2011

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Encerrando uma fase....

Última sessão da terapia.

Foram dois anos indo ao consultório todas as semanas.



Hoje recebi alta. Durante a sessão fizemos um apanhado do que foi melhorado e do que ainda precisa ser trabalhado. Foi interessante perceber o quanto melhorei e evoluí emocionalmente. E também, o quanto estou consciente de minhas atuais limitações. Ao aprender a me conhecer, a me dar prazer, a me divertir sozinha, a ser mais tolerante comigo mesma, a enfrentar o medo da vida, a conviver um pouco mais comigo mesma, sinto que encerrei uma fase na vida. Algumas dores não cicatrizaram ainda, outras já estão consolidadas. Muita coisa ainda vai acontecer. Ainda sentirei muita dor, ainda cairei muito no chão, enfrentarei muitos desafios, me apaixonarei muito, me desiludirei também. Vou viver minha vida sem me comparar com ninguém.Simplesmente, vou tirar a sandália, dar tempo ao tempo e seguir meu caminho ouvindo a voz da sabedoria e do meu coração.

Obrigada Deus! Obrigada Universo!

Estou orgulhosa de mim! hehehehe



terça-feira, 16 de agosto de 2011

Adora roda


Menina,
Vem pra roda
Aqui a vida melhora
E a dor se veste de alegria
Vem! Mas sem demora
Que o tempo já aflora
e a noite é fria...

Menina,
Vem pra roda
Aqui seu pesar vira poesia
E a tristeza não devora
Seu sorriso e fantasia
Olha pra frente!
Que a vida é o agora
E o samba anestesia...

Ora menina,
Te encontro na roda
Vambora! Sai da ilha
Acredita na sua história
Gira, dança, comemora
Que a vida é samba
Vem pra cá...
É aqui a roda que você adora!

Homenagem ao grupo Adoraroda, o melhor samba de Brasília! 
TODA TERÇA-FEIRA NO CALAF!!! 
VEM PRA RODA!!!

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Coisas sobre a vida.... como ela é!














Encontro e despedida...
Quantos ganhos e perdas diários?
Nada de acúmulos, a rotatividade vital é grande!
Entrada e saída...
Sorriso e lágrima.... ajuste e desequilíbrio... cicatriz e ferida...
O dual convivendo junto na complexidade dos dias
Chegada e partida de pessoas queridas...
Possíveis amores que se conhecem em momentos tão diferentes
e acabam por se despedir sem se encontrar...
Sementes que não encontram espaço para germinar!
Enquanto isso...
A poesia vai abrindo passagem no meio do lixo humano... e urbano.
O belo, a esperança, o amor e a fé vêm junto com o sol nascente
Fazer barulho pra me despertar
Ouço o chamado com a chama ardente
de quem sente que foi chamada pra semear
Sonhos, poesia, conhecimento, alegria:
A escola é o meu lugar,
Espaço onde sou antena e radar.
O dia de hoje está chegando ao fim,
Estou cansada.
Vou ler o livro que acabei de comprar,
Lavar a alma da sujeira do corpo,
e tentar me desligar.







sexta-feira, 29 de julho de 2011

Futuros amantes

      
Futuros amantes - Pablo Picasso

















Futuros amantes
Olhos cegos  do olhar
cheiro da pele desconhecido
gosto da boca fora do paladar
ignorantes do desejo
nada sabem sobre sua química
Não tiveram seus destinos cruzados
na padaria, no mercado
na fila do banco ou na esquina.
Ainda nem nasceram.
mas, o parto está marcado:
na roda de samba,
os futuros amantes
vão se tocar!
Na batida da percussão
o coração vai sambar,
E o futuro?
Ah... o futuro deixará pros amantes
o presente:
coração quente,
corpo em erupção,
taça de vinho,
o arrepio na pele,
o tesão,
o encanto do beijo,
a sofreguidão delirante,
o orgasmo inebriante
e a certeza
de que o presente termina hoje.
Amanhã, o futuro nos espera!




Futuros amantes - Chico Buarque

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Substan... Vivo!


Olhar
vontade
Mensagem
Encontro
Conversa
Chopp
Toque
Noite
Beijo
Carícia
Saudade.

Beijo... Flor!




Esse silêncio que não tem graça...
Descobri! é culpa do beija-flor.
Levou pra você minhas palavras,
mas, deixou a esperança, a magia
e uma flor...
beijada.

Tempos modernos



O fim do fim de semana
salvou José pelo serviço
devolveu seu crachá
sua função no mundo sagrado
Enfim, seu compromisso...

Agora, denovo encarregado
Pode se ocupar com a lida
manter o seu horário.
Porque... gastar tempo com a vida?
Nossa... dá muito trabalho!

Papel em branco!




O papel deu branco
A pena não escreveu
Uma pena!... desencanto
cada palavra que não viveu!

domingo, 17 de julho de 2011

Desejo de Mulher


















Preciso de um homem
              que tenha defeito
e se permita viver
              sem ter de ser perfeito.
                                 
                                 Sem precisar pedir desculpas por SER...

Preciso de um homem
             que transgrida minha lei,
me tire do comando
             e me mostre o que ainda não sei.

                           
                                    Sem precisar ser autoritário...

Preciso de um homem
             que por ser quem é
suspenda a minha respiração
             e coloque em xeque minhas certezas.

                                  Sem precisar tirar o meu chão...

Preciso de um homem
             sensível e selvagem
gentil e decidido
             que faça amor e sacanagem.

                                  Sem precisar de libertinagem.

Preciso de um homem
              que movimente a relação,
que tenha vontade própria
               e me diga não!

                                  Sem precisar desconsiderar minha opinião.

Preciso de um homem humano
              com seu conflito, sua alegria, seu tesão
Que vai me encantar em seu descaminho
              e me encaminhar em sua direção.

                                   Sem que precise me perder na razão.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Poema sem poesia














Minha maior tristeza
não é a saudade da minha filha
nem a certeza
de que tudo é passageiro...

Minha maior tristeza
não é o salário
desvalorizado
em meio as dívidas...

Minha maior tristeza
não é esse amor que nunca cicatriza
e sangra e sofre
e agoniza...

Minha maior tristeza
não é o meu aluno
violentado, negligenciado
maltratado, órfão de pais vivos...

Minha maior tristeza
é agora
quando as palavras fogem do papel em branco
eu escrevo, e apago.
Penso em um assunto, e ele se mostra outro...

Minha maior tristeza é a falta de inspiração.

É o momento em que não sou salva
da saudade
da dívida
do amor platônico
da comiseração humana.

Sem a poesia,
tenho que viver na minha casa
vestir as minhas roupas
atender pelo nome que me foi dado
sentir as minhas dores diárias
e conviver com a minha condição humana.

Só me liberto, quando sou reescrita pela poesia!

domingo, 3 de julho de 2011

Espelhos d'água


Qual o símbolo gráfico de um suspiro? Não sei. Não há. Pergunto na esperança de registrar os suspiros dele pra mim. Uma noite inteira de olhares desejosos de aproximação. Despertou-se a curiosidade em saber  do conteúdo daquele imã que atraía nosso calor, nossa vontade de ficar perto, nosso carinho. Qualquer instante a sós e a oportunidade de se beber intensificava a sede. Negação. Mentiu-se o desejo para evitar a necessidade.

A cena de amor que se desenhava, aconteceu em um buteco deliciosamente ornado de cerveja gelada, servindo conversa boa. Mesa rodeada de amigos apaixonados pela arte. Papo compartilhado por gente interessada na vida e em gente. Um violão sambava Cartola e as notas vinham pra mim. Meu espelho brilhava de contentamento. Felicidade é poder ter amigos de botequim. Eu os tinha naquele momento. Com exceção de João.

João não olhava os meus espelhos. Gesticulava, conversava com todos os amigos à mesa, fixava o olhar na minha boca. Mas, dos meus olhos fugia feito menino andando de bicicleta na contra-mão. João era professor - um comunicador nato, apaixonado pelas palavras. Pintava palavras no papel. Formava arco-íris com cores jamais vistas. Transformava uma vogal em sol. Depois cantarolava os sóis no jardim alheio. E todos floresciam.

Naquele dia ele não me olhava, mas ao me ver suspirava. Eu li. O suspiro escrevia: - Te quero! E eu lia. Um querer cheio de desejo que desligava o mundo pra acender o coração. Eu ria. Ria de sua adolescência despertada e de sua falta de jeito. Eu ria e derretia. Um a um, os amigos saíram de cena. Eu fiquei com meus espelhos d'água acenando pra você, jorrando rimas perfumadas. A partir daí, ficamos a sós para sair da solidão.

João não me olhou. Num abraço, juntou seu corpo ao meu tornando desnecessária qualquer declamação poética. Naquele momento, João se fez poema na minha boca e me fez fechar os olhos.

domingo, 26 de junho de 2011

Gravidez às avessas - Homenagem a Bruno Gouveia e seu filho Gabriel




Choro junto com o vocalista do Biquini Cavadão, Bruno Gouveia, que perdeu seu filho, Gabriel, de dois anos num acidente de helicóptero na Bahia, no último dia 17.

Perdi minha filha, Madú, a 1 ano e 9 meses. Sou uma mãe sem a filha no colo. Ela voltou pro meu ventre e virou semente de vida. A dor não passa. A alegria de ser mãe também não. Os sentimentos vão convivendo às vezes pacificados, às vezes não. A vida anda. Não aconteceu somente comigo e com o Bruno. Milhões de  mães e pais são amputados em seu instinto mais visceral: a proteção de seu filhote. A vida nos assalta no susto. Um segundo e descobrimos o quanto somos impotentes. Seguimos mancando, se apoiando na esperança de revê-los. Seguimos tentando ser melhores. Seguimos tentando preservar o que eles deixaram de melhor em nós: O amor incondicional. O amor pela vida. A vontade de fazer valer a pena o fôlego do último minuto. Força pra todos nós mães e pais de anjinhos!

Bruno,

  Reproduzo aqui o poema que você fez pro seu Gabriel, mas que a partir de agora escreve a minha história com a Madú também:

"a morte de um filho�
é uma gravidez às avessas
volta pra dentro da gente
para uma gestação eterna

aninha-se aos poucos
buscando um espaço
por isso dói o corpo
por isso, o cansaço

E como numa gestação ao contrário
a dor do parto é a da partida
de volta ao corpo pra acolhida
reviravolta na sua vida

E já começa te chutando, tirando o sono
mexendo os órgãos, lembrando ao dono
que está presente, te bagunçando o pensamento
te vazando de lágrimas e disparando o coração,

A morte de um filho é essa gravidez ao contrário
mas com o tempo, vai desinchando
até se transformar numa semente de amor
e que nunca mais sairá de dentro de ti.

Fiquem com Deus! E que Ele tenha piedade de nós."

Bruno Gouveia

Solução


















Para o doente,
saúde.
Para o faminto,
comida.
Para o sedento,
água.
Para o desabrigado,
casa.
Para o desempregado,
trabalho.
Para o pedestre,
carro.
Para o sobrevivente,
dinheiro
Para o solitário,
paixão.
Para o excitado,
sexo.
Para o frígido,
tesão.
Para o solteiro,
namoro.
Para o separado,
reconciliação.
Para o acomodado,
desejo.
Para o mal casado,
separação.
Para o carente,
atenção.
Para o desesperado,
consolo.
Para o perdido,
direção.
Para o desacreditado,
esperança.
Para a morte,
reencarnação.
Para a insatisfação humana,
qual a solução?

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Herança



Te amei de um jeito que você não queria
Você queria tudo o que eu não tinha
Romance, entrega, amor

Pisei no tapete vermelho que você estendeu
Enchi meu quarto com os girassóis que você escolheu
Minha vida se inundou com seu eu...

Na nossa descoberta 
acessei outras cores
inesquecíveis sabores
filmes entre os cobertores...

Te proporcionei o cuidado
paixão no paladar e no tato
Fiz conhecida
minha vontade de amá-lo...

Não foi realizado
o desejo de ficar lado a lado
Meu coração não estava preparado
para se juntar ao seu!

Separados,
herdamos o amor e o cuidar
Na constatação do fato
que cada um deu o que tinha para dar...

O coração agora triste
vai se reiventar.
Tomar posse da herança, 
Juntar a alegria e a esperança
para recomeçar...

















segunda-feira, 13 de junho de 2011

Bem-me-quer... mal-me-quer....

Bem-me-quero
sorrir

Mal-me-quero
desiludir

Bem-me-quero
experimentar

Mal-me-quero
censurar

Bem-me-quero
contribuir

Mal-me-quero
reprimir

Bem-me-quero
tentar

Mal-me-quero
desertar

Bem-me-quero
expandir

Mal-me-quero
desistir

Bem-me-quero
sonhar

Mal-me-quero
partir.

Bola de sorvete










A vida é uma bola de sorvete
deliciosamente saboreada...
mas, não "dê mancada"!
Não demora nada:
e ela volta a ser leite.

Posse dos dias!!!




Segunda-feira
é dia de luto
É quando se sai da vivência
para a sobrevivência
É o grande dia do absurdo!

No fim de semana
o compromisso é com o bem-estar
o relógio não chama a atenção
não se anda na contramão
do destino humano: a alegria...

Quem dera todos vivessem enquanto trabalham.
A grande maioria trabalha para viver
E a vida vai passando
dia após dia
E não espera por você!

Como é triste
passar a semana inteira
esperando pelo domingo
Quem determinou que a alegria só pertence ao ócio semanal?
Quero todos os meus dias, já!

Quero ser feliz na segunda
na terça quero ser poemetriz
quero festa na quarta-feira
na quinta quero clube do choro
quero samba na sexta
no sábado quero sair de mim...

Domingo quero rezar pro papai do céu
acalmar o coração
Comer comida de mãe
descansar na rede
Comemorar a vida que não acaba na segunda
Apenas reinicia outras atividades.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Vogais




A...MOR.
E...STIMA.
I...NTENSIDADE.
O...RDEM.
U...TOPIA.


Meu corpo  já carrega as consoantes
minha busca é pelas vogais.

Segue a procura
que não acaba no cemitério

Segue a vida
soletrando os dias

Trocando as letras
impondo mistério

Sigo a vida
reiventando modos de viver

Nasço a cada manhã
morro em cada anoitecer...

domingo, 5 de junho de 2011

Quarto de hotel














Apeguei-me a tua pele.

Desnudos, os nossos olhos se admiravam
surpresos com o mel profundo materializado no olhar
atraídos, traídos pelo magnetismo que silenciava a voz.

Se beijavam nossas almas
encantadas pelo primeiro encontro
vivido, saboriado, desejado.

Dialogavam nossos corações
enquanto tratávamos de parar o relógio
na vida que acabávamos de inventar.

Daquele instante era feita a nossa existência
não toda, mas toda inteira
como a imagem da última lua cheia.

Confissões sem solicitação
compartilhamos nosso dia-a-dia
sem compartimentar nossa energia.

Ficamos parados naquele quarto de hotel
experimentando... experimentando... experimentando...
Apenas comendo do banquete que se oferecia à mesa.

Iguais a todos os hóspedes.
Desiguais de todos os seres.
Nascendo e morrendo junto com cada célula do nosso corpo.










quarta-feira, 1 de junho de 2011

Se - pa - ra - ção

       





        Não se trata de separação silábica. Falo daquela que te isola de parte da sua vida. É quando você precisa criar uma pasta nova sem seu HD vital. E transferir para lá todos os sonhos perdidos, as frustrações, as mágoas, as dores, as lembranças e os sentimentos. Eles são você, fazem parte de sua vida, de sua formação. São indissociáveis. 
         O nome você pode tirar. O sentimento de fracasso não. De casa você pode mudar. A lacuna que fica não. Ela te acompanha a qualquer lugar. Perdas e ganhos: inseparáveis. Ex-marido. Ex-mulher. Ex-sogros. Ex-família. Os filhos permanecerão. Manterão as famílias unidas na doença, no aniversário, no natal, na formatura. Laço de vida. As características marcantes dos pares serão relembradas a todo instante pela cria. Continuidade do casamento. Ponto de convergência da família. Inevitável. 
          Hora de rever a vida. Se separar da baixo autoestima e doar amor a si mesmo. A muleta quebrou. Não tem ninguém em quem jogar a culpa pela sua infelicidade. O jogo está 0 x 0: você contra sua mente e a decisão está na tua mão.
           Separar-se significa casar-se consigo mesmo e conviver com seus anseios e sua própria limitação.

domingo, 22 de maio de 2011

Encontração

        




        Perdeu o voo para São Luís. Mario Quintana não a deixou partir. O portão de embarque era o de número 11. Só conseguiu chegar até o portão 3, onde havia uma livraria bem em frente. Encontração. Drummond estava lá. Clarice também. Não achou carpinejar. Mas Mario Quintana... "há". Tem. Tinha. Sempre haverá.
         O número do voo foi chamado várias vezes. Voo 3865: Embarque imediato! Última chamada! Sra Roseane Cristiane.... última chamada. Tarde demais. A referida sra  foi abduzida pela livraria do aeroporto. Não quis mais saber da vida, não quis saber do voo. Queria parar a vida naquela respiração. Pra falar a verdade desejou mesmo foi morar naquele local: a casa dos livros, no mundo dos encontros e despedidas, dos achados e perdidos.
            Um segundo de lucidez e percebeu que havia algo de errado. Seu voo não foi anunciado? O que teria acontecido?
         Depois de comprar o livro desejado, resolveu procurar o tal portão de embarque. Atravessou o corredor. Não viu ninguém. Corredor longo, solitário que dava acesso ao portão 11 das viagens internacionais. Portão ainda desconhecido por ela. Só encontrou os comissários. Seu coração acelerou. O seu bilhete foi conferido:
            - Chamamos esse voo várias vezes, senhora!
            - Não! (Espanto e taquicardia)
            - Sim! Fizemos até chamada nominal.
            Ela arregalou os olhos, desesperada.
            - A senhora estava lendo?! Os livros distraem mesmo.
            Um silêncio ensurdecedor instalou-se.
     Livros nas mãos. Impossível omitir. Balançou a cabeça confirmando a sentença. Respiração sobressaltada. Vontade de chorar. Não sabia o que Mário tanto queria: sua tarde, seu plano. 
         Será que o número do voo era esse mesmo?  Não sabia. Não entendia nada. Conseguiu a transferência de seu voo perdido para o primeiro horário da noite, 20 horas. Mário Quintana ficou. Ela concluiu a leitura do livro "Da preguiça como método de trabalho" e leu o "Para viver com poesia" em duas horas. Vida vespertina entregue ao poeta brasileiro. Deliciosa e dolorida abdução. Força criadora do pensamento. Coisa de quem quer a poesia, a ilusão, o irreal, o contraditório, o humano, o encantamento. 
         Antes de sair para ir pela segunda vez ao aeroporto, deixou os livros de Mário em casa. Não podia correr o risco de perder o voo novamente. Adentrou a sala de embarque mais uma vez, se acomodou de frente ao portão já confirmado e esperou pela decolagem. Agora, já inundada de poesia.
***

Marioquintanear....

É ser abduzida na livraria do aeroporto, enquanto seu avião decola. 
Leitora totalmente fora de órbita.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Minha mulher



Minha mulher tem meu cheiro
Metade do seu líquido é meu
Até sua mágoa tem meu nome
Seu gemido, seu néctar, sou eu.

Feito bicho farejo o seu corpo
Amordaço sua boca, envolvo seu pescoço
Minha presa feminista
Por loucura esbraveja
Meu amor, minha conquista
Minha pele ela deseja

Sereia perfeita
Barco naufragado
Profunda riqueza
Sou seu enamorado
Mergulho nesse oceano
Inquieto e desumano
Desorientado.

Não vou correr ao seu encontro
Nem vou ficar aqui parado
Mulher cativa
Escuta o que te falo
Quero deslizar pelo seu corpo
Até que perdoes
Todo o meu pecado...

domingo, 8 de maio de 2011

ma... ma... ma...


(Música: Pedacinho do céu de Waldir Azevedo)



Meu pedaço
no céu
Paraíso
no meu sonho
Encanto
na existência
Amor
divinamente
humano...
Anjo
da mamãe...
Sonho
 encontrar
seu rosto
tocar
sua mãozinha
e ouvir
susurros
de
Ma... Ma... Ma...
em
nosso
Reencontro.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Sim.



A partir de hoje vou dizer SIM
Dançar com o vento
Ficar presente no momento
Deixar o corpo todo sonhar que é sem fim
a dança, o orgasmo, o movimento...

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Verbo Transitivo Indireto




Sou toda feita de palavras
Materializada na escrita
Grafada com letras de forma
Formando frases imcompreendidas

Sigo tentando alocar
cada palavra em seu lugar
Quebra-cabeça alfabético
Sem borracha para apagar

Estou sintaticamente construída
Preenchida frente e verso
Semanticamente perdida
Verbo transitivo indireto

.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Terça insana













Não sei quanto tempo vai durar minha terça-feira
Já ouvistes falar da terça insana?
Nenhum humor.
São dias e dias esperando pela recuperação
do susto de ser humano.
Com o passar do tempo
a dor não passa...
Mais dói
Mais se quer o que não se tem
Mais se lamenta pelo que se perdeu
Mais anseia pelo amanhã
que talvez nem amanhecerá.
Mais decide pelo não
Mais insiste em não rezar
Mais divide insatisfação
Mais duvida da dor de amar.
Essa minha condição
de a dor semear
vai virar exclamação
em todo verso que brotar...
E se a minha perdição
for todo dia morrer de tanto sonhar?
Então virá a constatação
Sou humana doente de amor
Sou mulher carente de ...mar...
Quero me lançar na sua areia flor
Te ver, te cheirar
Brincar de fazer amor
Mergulhar no seu calor
só pra perder o ar...

sábado, 23 de abril de 2011

Costura

Alinhavo os retalhos coloridos
Na costura dos meus pedaços.
Desde o meu nascimento
costuro uma túnica longa
que proteja meu corpo
que aqueça minha pele
que esconda a minha nudez...
Os retalhos que a formam
eu busco em cada dificuldade, em cada alegria, em cada conquista.
Uns se encaixam perfeitamente na costura,
Outros precisam de corte e adaptação especial.
Minhas vestes se formam de tudo o que eu vivo
a cor da minha roupa é produzida pela cor da minha energia...
O meu dia a dia torna a costura mais longa ou mais curta.
Ás vezes descosturo o que já está pronto
e começo tudo denovo...
Em outro momento, tento fazer remendos
e tampar os buracos... dia e noite.
Sigo costurando a minha roupa
Escolhendo os meus caminhos
Cultivando o jardim do meu coração
Aprendendo a lidar com os meus espinhos.
Hoje costuro mais um retalho vermelho
Agora preciso sair...
Tenho que encontrar mais retalhos.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Realengo: Luto, desconstrução e dor.





A professora de Língua Portuguesa que se deparou com o sujeito não pôde acreditar na oração que se impunha em plena aula: Homem invade sala de aula e atira em todos os alunos que seus tiros puderam alcançar.

A aula de gramática foi interrompida. Treze vidas foram abreviadas. O Brasil olhou para Realengo e chorou. Todas as escolas brasileiras se viram dentro daquela sala de aula ensanguentada. Aquela professora apavorada podia ser eu.

Saí da minha última aula do dia. Passos curtos, voz cansada, desgaste físico, dia normal. Chegando à sala dos professores desenhava-se uma cena de terror: Televisão ligada, professores atônitos diante de um triste pronunciamento do governador do Rio de Janeiro: "Esse foi um massacre escolar sem precedentes no Brasil."

Perdi a fome, fiquei muda, ainda mais cansada. Uma tristeza profunda tomou conta de cada célula do meu corpo. Saí sem me despedir. Fiquei fora de área. Aérea. Sem reação.

Cheguei em casa e o noticiário reafirmava:  Homem invade sala de aula carioca mata doze crianças e deixa doze feridos. Por quê? Por quê? Por quê? Cada batimento cardíaco pulsava o mesmo questionamento. Qual a história desse assassino? Como ele teve coragem de tirar a vida desses alunos?

A mídia indica várias possibilidades: Solidão, bullying, fanatismo, psicopatia. Como fazer o diagnóstico? As hipóteses são gritadas na imprensa, mas nunca obteremos uma explicação que seja, no mínimo, razoável.

Engulimos esse fato a seco. A força. Estamos entalados. A violência chegou na escola brasileira: aluno mata professor, professor bate em criança, assassino massacra alunos em plena aula, etc.

A escola não foi feita para isso. Violência é o oposto de Escola. A escola é a casa do conhecimento. É o lugar de descobertas, de autoconhecimento, de convivência. Como pode o aluno ir estudar e não voltar à casa? Como se explica o fato de um professor planejar a sua aula, ir trabalhar e ser executado pela intolerância?

Seguem mais perguntas silenciosas. Sem respostas.. Apenas ruído, choro, suspiro, dor de todos os professores, alunos e profissionais da educação que vivem na escola e a tem como único espaço em que se tem a chance de lutar pela transformação social.

Após 7 dias do massacre, ainda sinto-me dolorida. A escola brasileira está manchada de sangue. É preciso limpar o sangue da sala. É preciso lavar a alma. É preciso acreditar na evolução humana.

A partir de hoje, não vou ensinar apenas questões sobre o substantivo e o adjetivo. Vou ensinar a amar e a conviver com as diferenças. Vamos aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a ser e APRENDER A CONVIVER!

Vai meu amor para todas as 12 crianças que foram brutalmente retiradas do nosso convívio. Um beijo de luz em cada coração...

Cristiane.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Estou morrendo...





Estou morrendo.
Não pertenço mais a essa vida
Não sinto dor já faz um tempo
Ausência de despedida...

Estou morrendo.
Passei pela porta de saída
Nem cansaço, nem partida
Pouco a pouco vou percebendo
Tenho tudo o que queria.

Nem choro, nem sofrimento.
De angústia despida
Pacificada em meu momento
Estou morrendo por dentro
Morrendo de alegria!!!!

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Flor do Sol





Toda semana meu quarto recebe um girassol vivo. Lindo. Amarelo. Sorridente. Meu olhar pra ele é de emoção pura, olhar saudoso por sua vida tão curta. Parece tão inconsciente de sua efemeridade. Ou talvez, sua curta vida seja ainda mais longa que a média humana. Como medir e comparar? Impossível. Não se pode comparar coisas tão diferentes. Tudo é vida manifesta de forma exclusiva. Cada manifestação vital é única. Nasce, cresce, se reproduz, envelhece e morre. O ciclo é semelhante. Nunca igual.

Meu Girassol parece feliz. Dorme e acorda sorrindo. Vibra quando me volto pra ele. Gargalha quando dou as costas. Quanta independência emocional. Não é sempre assim, ele precisa de água e luz para vivenciar seus poucos dias. Isso vem de mim. Se fujo à responsabilidade, ele morre mais rápido: fica sem ar, cada centímetro de seu caule fica ressequido, começa a murchar, as folhas começam a se contorcer, se transforma em um bebê velho. Sorriso amarelo de tristeza. Seus dias serão encurtados e isso ele não pôde escolher. A escolha é minha.

Eu escolho cuidar, ou deixar morrer. A escolha dele já foi feita: Sorrir. Ele sorri sempre. Com sede ou satisfeito. Recém-nascido ou envelhecendo. Querendo ficar, mas indo embora. Sorri, mesmo que não tenha ninguém por perto. Nasceu pra ser feliz. É. Simplesmente é. Simplesmente sabe. Simplesmente sente. Simplesmente vive. Porque viver feliz é sua missão, por isso, vibra tanta energia que ilumina a existência de quem tem o privilégio de compartilhar do mesmo espaço.

Minha paixão pelos girassóis aconteceu há dois anos. Quando olhei pra um e percebi sua rotina: Ser esplendoroso, alegre e encantador. Passar todas as horas do seu dia girando na direção do sol, do nascente ao poente, na tentativa de aproveitar cada segundo de luz, de alimento, de força. Rotina intensa. Identificação imediata. Aconteci junto com essa descoberta. De lá pra cá, observo a flor do sol como a mim mesma. Com o tempo, fui observando em torno do quê eu estava girando, qual era o sol que eu mesma tinha estabelecido pra mim. Essas observações trouxeram as respostas para os meus porquês. Eu, girassol humano, escolho o sol em torno do qual quero girar: Relacionamento, dinheiro, filho, beleza, problema, filosofia, status social, sofrimento, abundância ou escassez...

 Está tudo dentro de mim: A flor do sol e o próprio Sol.


terça-feira, 22 de março de 2011

Caça-palavras


Procurei palavra. Qualquer insana letra que me devolvesse a sanidade. Elas vieram como quem procura um canal com a mesma sintonia, silenciei meu coração pela impossibilidade de silenciar minha mente. Não há exigências, apenas necessidade de espaço para que as palavras se materializem. Quanto mais barulho, mais folhas brancas. O advento da escrita se configura na decisão de parar aquele momento da vida, respirar profundamente, esquecer das contas atrasadas. Simplesmente aceitar a ansiedade da espera, aquietar um pouco e sorrir satisfeito. Quem procura acha.

 Terça-feira de procura desesperada. Todas as palavras lindas, cheias de significado, de forma, de vida própria, de entrelinhas que alimentam a alma estavam sendo desejadas, invocadas pra existência. Estava com fome de construções sintáticas reflexivas, sentimentais, eróticas, espiritualizadas. Pouco importa. Meu propósito é  me escrever no papel do mundo. Alcançar a benção da simbiose alfabética, onde não haja diferença entre meus átomos e minhas letras. Minhas. 

Elas vieram ao meu encontro. Encontro é para dois. Um tem de vir no rastro da sintonia do outro e se jogar. Acontece assim. Pensamento, desejo, decisão. Encantada. Me sinto enfeitiçada de amor. As palavras se jogaram em minha direção. Senti o perfume, a textura, o gosto. As reconheci imediatamente, identifiquei as suas formas, como dançavam sensualmente para mim! Como eram felizes na brincadeira da vida! Se faziam em versos, se juntavam em estrofes, transpiravam musicalidade. Sonhavam meu sonho. Pintavam minhas cores. Se apaixonavam por meus amores. Cumplicidade igual eu nunca vi.


Finalmente, sem nenhum ponto final - livre de qualquer conclusão - materializo o girassol de átomos e palavras que se fez nascer em amor. Com prazer. Terça geradora de ser. Produto inacabado, incompleto, que sonha em evoluir o modo como percorre o seu trajeto.  Retira o seu foco do ponto de chegada. Cai sempre que olha pro lado e recomeça  no impulso mesmo da queda. Achei mais um pedaço. Agora posso continuar a construção.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Faxina















Vamos limpar a casa
Toda sujeira da vida
Varrer o pó do piso
Abrir caminho para uma nova energia...

Vamos desobstruir os espaços
Tirar toda poluição visual
Limpar do peito o cansaço
Recolher as cinzas do que foi prejudicial

Vamos retirar os cacos de vidro do chão
Clarear todas as paredes
Mudar as cores e os enfeites
Parar de seguir pela contra-mão
Por entendimento, vontade, ação...

Vamos fazer jorrar água em todos os ambientes
Regar a alma sedenta
de água, de luz, de fantasia
Vamos fazer festa todo dia
Vamos encher a casa com poesia....

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

kinshasa

Do outro lado do oceano
Eu tenho amor
Fé, carinho, encanto
Derramamento, calor...
A distância não distancia
Dois seres enamorados
Dois corpos que se procuram
Órfãos apaixonados...
Pelos sonhos conectados
Os Quilômetros que se encurtam
De tanta vontade
Necessidade de ficar lado a lado...

Me completo em outro continente
Lá, onde está o amor
Extensão da minha pele, da minha mente
Que anseia daqui, desse pedaço do ocidente
Por seus olhos, seus lábios
Por seu cheiro, por sua cor...

Meu peito apertado
Espera por se entregar
Ao descanso dos teus braços
Lugar que escolhi para me hospedar
Kinshasa cuide de sua terra
Ame seu filho adotivo em missão
Daqui do meu Recanto eu rezo
Para que em paz devolva ao meu chão
Aquele que levou meu coração...

Traz de volta para o lar verde e amarelo
Aquele que ama o meu sorriso
Que chora o meu choro
O que faz raiar o sol em dia nublado
O que segura a minha mão com consolo
Aquele que enche meu coração de gozo
e me quer sobre todas as coisas:
Amada. Inteira. Livre. Pacificada.
Te espero amor para te oferecer repouso
O cuidado, o carinho, o afeto
Daquela que escolhe diariamente
Te ter por perto!