terça-feira, 28 de setembro de 2010

Chuva


Sem pressa...
Peço para os meus lábios molhar,
estão secos.
O clima, minha respiração vem dificultar
o que explica o desejar
das pequenas partículas de salvação:
água.
Traga-me o cheiro da terra molhada
Apague as queimadas
Encha denovo os rios
Movimente o que parado está...
Inunda meu corpo
Passeia em meu colo
Desliza em minha pele
Refresca minha língua
Sem pressa...
Encha suas nuvens
Até derramar
Goteja sua vida
Chove em mim!

domingo, 26 de setembro de 2010

Maria no Clube do Choro (Parte II)


"Choro é cura! Eu experimentei"! afirmou Mario Séve numa emocionante apresentação no Clube do Choro de Brasília, no último dia 23. Mário Séve e David Ganc apresentaram uma seleção de incríveis músicas do Pixinguinha. Maria assistiu. Mais que isso, fez-se presente, num encontro leve e profundo com as mais belas melodias.


Chegou atrasada ao local, bilheteria fechada. Assustou-se. Não podia ir embora. Não iria mesmo. Havia um ingresso branco que a aguardava. Alegrou-se. Naquele momento, não mais havia reserva, poderia sentar em qualquer cadeira vazia. Apressou-se. Os músicos já estavam sendo apresentados quando, enfim, escolheu onde sentaria. Vizualisou uma mesa vazia. Vibrou por dentro. Seria inédito sentar numa mesa e assistir ao show sozinha. Nas outras vezes, Maria sentou-se ao lado de pessoas desconhecidas e se relacionou bem. Agora, de desconhecido só tinha a si mesma. Como iria se tratar? O show começou com a alegria melódica do Pixinguinha, alegria esta que se contrapôs ao substantivo choro, desenhando, assim, uma interessante metáfora. Contradição.


Seus olhos se fecharam com um som de flauta, num devaneio lento e quente. Aquele som impactava suas células. Pôde sentir a música e sua vibração-arte. Seus poros se abriam como que se alimentando. Estava Consumado.


Maria fez música. Uma leitora que escrevia o texto junto com o autor. Um instrumento com suas infinitas possibilidades de sons e melodias sendo tocado. Uma folha reciclada sendo grafada com cores, partituras, melodias impressas em letras douradas. Não mais expectadora, fez-se parte integrante daquela música. Sorriso. Aplausos. Lágrimas. Encantamento. Vibração sonora. Dança mental.


Ora dialogava com o palco, ora com suas próprias impressões. Os comentários que outrora fazia com seus companheiros de mesa, agora tomavam forma de susurros, palmas e gritinhos de vibração. Sentiu-se feliz ao perceber o clarão em seu rosto.


Um balde com cervejas geladíssimas e, para comer, pães de queijo suiço eram as suas companhias na mesa. As cadeiras a seu lado estavam vazias, mas não se sentiu solitária. Seu coração estava cheio, sua alma estava iluminada. Sentia-se em paz. Achava engraçado o jeito que as pessoas a observavam. Indagavam, curiosas, a presença daquela mulher loura, de vestido vermelho e expressão feliz. O que ela faz sozinha? Espera alguém? Quer encontrar alguém? Certamente, cada um tinha a resposta adequada ao seu ponto de vista.


Entretanto, talvez eles nunca saberão de sua história. Nunca terão as respostas reais. Naturalmente. Não há respostas para todas as perguntas. Mistério sempre haverá. Maria achou graça. Gargalhava com a vida. Achou a graça. A graça da vida. Talvez tenha experimentado a cura inicialmente referida pelo músico. Pelo menos, era como se sentia. Liberta. Inteira. Curada.


terça-feira, 14 de setembro de 2010

Carta à Maria Eduarda


Madú, amor da minha vida, obrigada por tudo o que você fez por mim!





Hoje a Maria Eduarda completa 1 ano de existência em minha vida. Por esse motivo, decidi homenageá-la publicando essa carta que escrevi na ocasião de sua partida para o novo mundo. 1 ano de dor, saudade, vazio, silêncio, paz, certeza de um reencontro!

Filha, te amo!

Sinta o meu amor no seu coração!

Fique em paz!


Brasília, 14 de setembro de 2009.


Madú,


Nem nos meus mais lindos sonhos achei que fosse possível sentir uma felicidade tão grande quanto a que passei a sentir com a sua existência em mim. 22 de janeiro de 2009, eu e seu pai ficamos sabendo que você já estava crescendo, linda e forte no meu ventre. Alegria, susto, felicidade, êxtase foram alguns dos vários sentimentos que sua chegada me proporcionou.
já não seríamos mais Cristiane e César, e sim, Mamãe e Papai. Já não seríamos dois, e sim, três. Uma família. Junto com você estava sendo gerada uma nova família, a família Lima de Oliveira.

A descoberta do seu sexo foi outra aventura pela qual passamos: seu pai que sempre quis uma menina, para contrariar, passou a falar que queria um menino, o que me confundiu um pouco, mas, no fundo, eu sabia que você era a tão sonhada Maria Eduarda.
Sim, filha, seu nome já estava escolhido por seu pai a mais de dez anos. Quando eu o conheci você já era um sonho dele e, com o amor, passou a ser o meu também.
Com quatro meses de gravidez veio a confirmação de que você era realmente uma menina. Uau! Mamãe ficou enlouquecida de felicidade e o papai ficou bobo, todo satisfeito! Só não ficou muito satisfeito por perder todas as apostas feitas com os amigos, inclusive comigo. Imagina, filha, só pra mim ele teve de pagar um mês de sushi. Mas tudo era brincadeira, diversão e pretexto para falar de você.
Logo em seguida, vieram as primeiras danças, sim amor, você dançava na barriga da mamãe de um jeito tão gostoso que eu parava qualquer coisa que eu estivesse fazendo para prestar atenção em você. E, eu tinha certeza que o que você dançava era, no mínimo, um forró! Oh, como se mexia!
Você tinha de ver a cara do seu papai quando ele viu sua dança pela primeira vez! Sabe aquela cara de abobalhado misturada com expressão de criança que acabou de ganhar a balinha que tanto queria? Pois é! Era a cara do seu pai impressionado com os seus movimentos. Bastava ele colocar a mão para você mexer no mesmo instante. Eu ficava até com ciúmes, mas era um ciuminho bom...

Filha, você estava crescendo tão rápido que decidimos arrumar seu enxoval. Compramos uma casa linda para você morar, montamos um quarto de boneca de pano, todo em branco e lilás, ficou lindo, perfeito!

Esperar você, sentir você crescendo, fazer suas ecografias, escutar (pela primeira vez) seu coração bater, planejar seu quarto, comprar suas bonecas, foram alguns dos momentos mais maravilhosos da minha vida!

Você me transformou em uma mulher completa, você me mostrou um novo jeito de olhar para o mundo, para a vida! Por isso, acredito que sua missão foi cumprida com louvor. Você foi designada para gerar e fazer nascer uma nova Cristiane e um novo César, mais humanos, mais determinados. Você nos fez nascer denovo. Foi você quem me devolveu a vida. Foi você quem me mostrou o melhor jeito de viver a vida!
O meu amor por você mudou a minha vida e até a minha relação com as pessoas. Com as próximas e com as distantes. As posições foram deslocadas: as pessoas que estavam distantes ficaram próximas e as próximas um pouco mais distantes.

Mas o que importa mesmo é que você saiba o quanto mamãe e papai foram felizes em todo esse tempo que você esteve sendo gerada. Rimos, ficamos encantados, abobalhados, algumas vezes assustados e muitas vezes embevecidos de prazer e alegria.
Eu te agradeço por tudo o que você me deu. Todas as emoções, todas as alegrias, todas as descobertas, todo aprendizado, toda felicidade...

Minha filha, eu te agradeço por esse amor que nós três construímos, você sempre fez parte da minha vida e sempre será lembrada como a primogênita, a filha mais velha que está morando, a partir de agora, num outro país. O país dos anjos, dos espíritos iluminados, o país do amor.

Sei que apesar da distância nosso amor e nosso pensamento estarão eternamente ligados!

Te amo Maria Eduarda Lima de Oliveira!

Ass: Cristiane, sua mamãe.



quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Essência


Essencialmente me perdi
perdi o melhor dos meus sonhos
perdi o emprego que a mim parecia o melhor
o melhor dos meus versos
perdi o traçado daquele fabuloso plano
e a sensação de segurança maior

Me perdi no verde olhar daquele encontro
e ao longo dos anos, no meu próprio labirinto,
me escondi do espelho,
fiz minha auto-imagem em preto e branco
mas meu coração, eu pintei de vermelho

Vermelho que ora dava lugar ao laranja
ora ao amarelo girassol
ora ao verde cura
num revezamento vivo
ora preto, ora colorido
sob a sombra, sob o sol

Perdi o choro da madrugada
a dor e a alegria de alimentar (-me)
o olhar que era pra mim
e a mãozinha que a minha ia segurar
a primeira palavra
e o momento de engatinhar
me perdi debaixo daquela terra.

Me perco todo dia
numa ânsia desesperada de me achar
quanto mais numerosas as tentativas
mais certeza de que o grão morre
pra só depois germinar

Quando acha que se perdeu tudo
e que não há mais nada para ser desfeito
fica a impressão de que o que sobrou
é puro, a colorida essência
o que realmente não pode se perder:
o aprendizado, alguma dor, sensibilidade
o amor, simplicidade, verdade-ser
Todas as cores do arco-íris
o vermelho da vontade de viver!!!








quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O s l^n c o d s p l v r s .


A ausência da palavra é a morte
ausência do som, da textura, do significado
Um silêncio fúnebre num espaço nublado
a doce, fria e desesperadora calma...
A calma de não se ter o barulho significante
de não se ver o pulo das letras querendo significar
A calmaria do vazio atordoante
de não precisar das vírgulas para organizar...
Buraco negro... vazio de cores
de imaginação, de beleza, de sonho
cheio de poeira densa
de infinito ar
vazio de substância rica
substantivos não há
vazio de ação plena
verbos sem conjugar
Em tempo, algo parece querer gritar
E o clima de silêncio transformar...
É o vento que sussurra forte
para o silêncio tentar abafar
emite um som em forma de uivo
faz um esforço para silabar
A ventania com seu movimento
de levar e trazer coisas
que pra longe levou minhas palavras
agora tenta delas se reapropriar...
Os mais vivos e variados sons
assopro, suspiro, sussurro
inspiração, expiração
batimentos cardíacos,
avisam que se instalou o desejo de soletrar...