terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O vôo


          
         Voar sempre foi meu forte. Quando era criança vivia voando, percorrendo caminhos imaginários, mágicos, irreais. Pensava em como seria quando já estivesse crescida, independente, com meu carro vermelho, minha casa grande, e claro, casada com um louro alto, de olhos verdes e corpo atlético. Quem sabe até teria filhos, eu queria dois: um menino e uma menina. Também sonhava com o mundo, com as belezas naturais, com as garotas elegantes das novelas (nas quais eu me inspirava), e com tudo o que eu poderia ser um dia.

Dos sonhos noturnos já nem lembro mais, mas os sonhos que tive acordada cresceram comigo e fazem parte de mim. Uns sonhos mudaram, alguns concretizei, outros perdi no caminho e alguns outros aguardam o momento certo em que serão, enfim, realizados. Quando brincava de boneca, de casinha, ou quando jogava queimada ou bandeirinha na rua de casa não podia imaginar que voaria a 11 mil metros do chão, numa velocidade de 800 km/h. Não, isso eu não podia imaginar. Estar nessa altura, entre as nuvens, sobrevoando o Brasil nessa proporção (altura x velocidade) assusta-me e encanta-me de maneira especial. É incrível como a tecnologia encurtou a distância territorial e permitiu que fizéssemos esse tipo de vôo, diferente dos que fiz na infância, porém, não menos especial: é uma viagem.

Na infância, viajamos o mundo sem ao menos sair do lugar. Também viajamos de férias para um lugar, conhecido ou não, onde nos sentimos na obrigação de nos divertirmos, pois sabemos que tem hora e dia marcado para terminar. Mas há uma viagem mais importante: a vida.

Quando nascemos, embarcamos nesse vôo constante (o mundo), ao lado de outros tripulantes (a humanidade), com um destino não muito certo ( a felicidade) e com um detalhe essencial: a passagem de volta está comprada, com hora e data certa para o desembarque (morte). Porém, não sabemos qual é exatamente esse dia e essa hora. Nessa viagem, é preciso aproveitar cada segundo desse vôo, pois, diferente dos vôos da infância, ele não é imaginário e diferente do vôo das férias não sabemos a que horas iremos desembarcar.
Boa viagem!                                                                           
Cristiane Oliveira
Julho de 2008
(em vôo Porto Seguro-Brasília pela TAM)

Um comentário:

  1. Ui... esse me arrepiou... realmente minha cara colega geminiana, esse último vôo relatado é o mais importante, em busca de um destino que estamos sempre buscando e parece que nunca chega... até o fim desse vôo...
    O importante agora é que nossos vôos se cruzaram... vc faz parte da minha tripulação e eu faço parte da sua... destinos dferentes que se encontraram... e por algum motivo,é claro... pois nada acontece por acsao, não é?
    beijos

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