domingo, 26 de setembro de 2010

Maria no Clube do Choro (Parte II)


"Choro é cura! Eu experimentei"! afirmou Mario Séve numa emocionante apresentação no Clube do Choro de Brasília, no último dia 23. Mário Séve e David Ganc apresentaram uma seleção de incríveis músicas do Pixinguinha. Maria assistiu. Mais que isso, fez-se presente, num encontro leve e profundo com as mais belas melodias.


Chegou atrasada ao local, bilheteria fechada. Assustou-se. Não podia ir embora. Não iria mesmo. Havia um ingresso branco que a aguardava. Alegrou-se. Naquele momento, não mais havia reserva, poderia sentar em qualquer cadeira vazia. Apressou-se. Os músicos já estavam sendo apresentados quando, enfim, escolheu onde sentaria. Vizualisou uma mesa vazia. Vibrou por dentro. Seria inédito sentar numa mesa e assistir ao show sozinha. Nas outras vezes, Maria sentou-se ao lado de pessoas desconhecidas e se relacionou bem. Agora, de desconhecido só tinha a si mesma. Como iria se tratar? O show começou com a alegria melódica do Pixinguinha, alegria esta que se contrapôs ao substantivo choro, desenhando, assim, uma interessante metáfora. Contradição.


Seus olhos se fecharam com um som de flauta, num devaneio lento e quente. Aquele som impactava suas células. Pôde sentir a música e sua vibração-arte. Seus poros se abriam como que se alimentando. Estava Consumado.


Maria fez música. Uma leitora que escrevia o texto junto com o autor. Um instrumento com suas infinitas possibilidades de sons e melodias sendo tocado. Uma folha reciclada sendo grafada com cores, partituras, melodias impressas em letras douradas. Não mais expectadora, fez-se parte integrante daquela música. Sorriso. Aplausos. Lágrimas. Encantamento. Vibração sonora. Dança mental.


Ora dialogava com o palco, ora com suas próprias impressões. Os comentários que outrora fazia com seus companheiros de mesa, agora tomavam forma de susurros, palmas e gritinhos de vibração. Sentiu-se feliz ao perceber o clarão em seu rosto.


Um balde com cervejas geladíssimas e, para comer, pães de queijo suiço eram as suas companhias na mesa. As cadeiras a seu lado estavam vazias, mas não se sentiu solitária. Seu coração estava cheio, sua alma estava iluminada. Sentia-se em paz. Achava engraçado o jeito que as pessoas a observavam. Indagavam, curiosas, a presença daquela mulher loura, de vestido vermelho e expressão feliz. O que ela faz sozinha? Espera alguém? Quer encontrar alguém? Certamente, cada um tinha a resposta adequada ao seu ponto de vista.


Entretanto, talvez eles nunca saberão de sua história. Nunca terão as respostas reais. Naturalmente. Não há respostas para todas as perguntas. Mistério sempre haverá. Maria achou graça. Gargalhava com a vida. Achou a graça. A graça da vida. Talvez tenha experimentado a cura inicialmente referida pelo músico. Pelo menos, era como se sentia. Liberta. Inteira. Curada.


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