domingo, 22 de maio de 2011

Encontração

        




        Perdeu o voo para São Luís. Mario Quintana não a deixou partir. O portão de embarque era o de número 11. Só conseguiu chegar até o portão 3, onde havia uma livraria bem em frente. Encontração. Drummond estava lá. Clarice também. Não achou carpinejar. Mas Mario Quintana... "há". Tem. Tinha. Sempre haverá.
         O número do voo foi chamado várias vezes. Voo 3865: Embarque imediato! Última chamada! Sra Roseane Cristiane.... última chamada. Tarde demais. A referida sra  foi abduzida pela livraria do aeroporto. Não quis mais saber da vida, não quis saber do voo. Queria parar a vida naquela respiração. Pra falar a verdade desejou mesmo foi morar naquele local: a casa dos livros, no mundo dos encontros e despedidas, dos achados e perdidos.
            Um segundo de lucidez e percebeu que havia algo de errado. Seu voo não foi anunciado? O que teria acontecido?
         Depois de comprar o livro desejado, resolveu procurar o tal portão de embarque. Atravessou o corredor. Não viu ninguém. Corredor longo, solitário que dava acesso ao portão 11 das viagens internacionais. Portão ainda desconhecido por ela. Só encontrou os comissários. Seu coração acelerou. O seu bilhete foi conferido:
            - Chamamos esse voo várias vezes, senhora!
            - Não! (Espanto e taquicardia)
            - Sim! Fizemos até chamada nominal.
            Ela arregalou os olhos, desesperada.
            - A senhora estava lendo?! Os livros distraem mesmo.
            Um silêncio ensurdecedor instalou-se.
     Livros nas mãos. Impossível omitir. Balançou a cabeça confirmando a sentença. Respiração sobressaltada. Vontade de chorar. Não sabia o que Mário tanto queria: sua tarde, seu plano. 
         Será que o número do voo era esse mesmo?  Não sabia. Não entendia nada. Conseguiu a transferência de seu voo perdido para o primeiro horário da noite, 20 horas. Mário Quintana ficou. Ela concluiu a leitura do livro "Da preguiça como método de trabalho" e leu o "Para viver com poesia" em duas horas. Vida vespertina entregue ao poeta brasileiro. Deliciosa e dolorida abdução. Força criadora do pensamento. Coisa de quem quer a poesia, a ilusão, o irreal, o contraditório, o humano, o encantamento. 
         Antes de sair para ir pela segunda vez ao aeroporto, deixou os livros de Mário em casa. Não podia correr o risco de perder o voo novamente. Adentrou a sala de embarque mais uma vez, se acomodou de frente ao portão já confirmado e esperou pela decolagem. Agora, já inundada de poesia.
***

Marioquintanear....

É ser abduzida na livraria do aeroporto, enquanto seu avião decola. 
Leitora totalmente fora de órbita.

Um comentário:

  1. kkkkkkkk... só vc mesmo hein cris... ficou nadando nas palavras do Mario... e se perdeu entre seus mergulhos...
    Sou boa oradora, mas não sou boa escritora... acho que formariamos uma boa dupla hein... Rsss
    T´doro
    Beijinhos
    Camile

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